segunda-feira, 24 de setembro de 2007

[doc=m] bruno paiva [sonho]

O início da aula do dia 31 de agosto foi marcado pela discussão dos documentários apresentados que relatavam o que tinha acontecido na aula anterior. A partir dessa discussão é possível refletir a questão da memória, como cada um tem uma opinião diferente e uma percepção diferente das coisas, e como cada um consegue relatar essa história.
O texto que serviu como base para toda a discussão feita em sala de aula foi o texto “Experiência e Pobreza” (1933) do livro Obras Escolhidas Volume I de Walter Benjamin.
Benjamin nasceu em meio a uma família judaica, filho de comerciantes franceses. Na adolescência, ele perfilhou idéias socialistas e participou do Movimento da Juventude Alemã. Formado em filosofia, começou a escrever sobre a vida cotidiana dos séculos XIX e XX.
Sentindo-se ameaçado por ser judeu, em meados de 1942, Benjamin saiu da França para a Espanha para esperar sua documentação para que pudesse sair da Europa. Com a demora da sua documentação, ele comete suicídio, devido ao grande medo da guerra, dias antes da sua documentação ser liberada.
Ele foi o primeiro a escrever sobre a cidade como lugar de vivências de experiências, e durante os séculos XIX e XX ela é responsável pelo empobrecimento, superficialização, perda de um sentido de coletividade, gerando novas formas de narração.
Após uma breve biografia do autor, começou, então, a discussão acerca do texto proposto para tema em sala de aula. O texto tem como idéia principal a idéia do empobrecimento e a superficialização da cultura, pois as pessoas vivem totalmente alienadas ao consumo.
O texto começa com ele relatando a história de um senhor que no momento de sua morte revela a seus filhos a existência de um tesouro enterrado em seus vinhedos. Os filhos cavam o quando podem porem não encontram o desejado tesouro. Somente quando o outono chega que eles entendem que o pai havia transmitido uma experiência, a riqueza do trabalho e não no ouro.
Essa parábola serve para ilustrar a magia de como eram contadas as historias antigamente, como as pessoas relatavam experiências aos filhos, aos amigos, de forma simples e com uma magia.
Com a chegada da era industrial, a maioria das pessoas não conseguem mais relatar essas histórias com tanta magia e beleza. O que, de acordo com minha opinião, não é tão rígido assim, pois diversas pessoas conseguem sim relatar suas histórias, suas experiências, mesmo vivendo em um mundo tão diferente, baseado em um novo modo de socialização. Para mim, é possível, ainda, haver magia em se transmitir experiências, histórias, conhecimento de uns para os outros, de gerações para gerações.
Não concordo quando ele diz que após a Primeira Guerra Mundial as experiências vividas das pessoas no dia a dia começam a ser ruins, densas e complicadas como experiências de guerras. Acho que há uma mudança em como as pessoas enxergam o mundo, mas ainda há a beleza e a pureza nas experiências.
Como exemplo ele cita os combatentes que voltaram da primeira guerra mundial mais pobres em experiências comunicáveis, pois suas experiências não são capazes de ser contadas, pois são mais densas e complexas. Não é possível transmitir de fato o que ocorreu na guerra, pois ninguém é capaz de transmitir a real dimensão da mesma.
A história da Primeira Guerra tem como pano de fundo o desenvolvimento da tecnologia e o uso da razão. Nesse momento em que a razão parece estar sobrepondo, a Primeira Guerra demonstra o pior momento de barbárie com mais de um milhão de mortos.
Um bom lugar para se verificar de alguma forma experiências da guerra é o filme “Arquitetura da Destruição” de Peter Cohen. No filme ele lembra que chamar Hitler de artista medíocre não elimina os estragos provocados pela sua estratégia da conquista universal.
A discussão foi interrompida por um momento para que a Fabiana pudesse nos dar um recado, as 8:00 da manha. Recado esse que poderia esperar uma hora mais oportuna.
Essas histórias de guerra são contadas com certo romantismo nos livros, querendo sempre haver heróis e vilões. E de fato quem estava lá na guerra eram meras vitimas de políticos e economistas que queriam sobrepor aos seus inimigos.
Tomando como base essas experiências ruins, lembrou-se de Jeane Marie Gagnebn, autora de “Lembrar, Escrever, Esquecer”. Jeane é a principal estudiosa de Benjamin no Brasil. O livro contém 14 textos colocados em seqüência, porem sua seqüência cronológica não segue a do livro. A partir dessa idéia, ler o livro é um exercício para que o leitor possa notar como ela reelabora seus temas em sua trajetória intelectual. Pode-se fazer uma ligação direta ao texto em estudo, pois no texto da aula o que se coloca em discussão é a idéia de perda ou de declínio da experiência.
Apesar de vivermos essas experiências desagradáveis, é preciso relatarmos as mesmas, para que possamos ficar livre delas, só iremos esquecê-las a partir do momento em que contamos e passamos para frente.
Nessa época da razão, não é possível mais buscar respostas na vida antiga de um problema atual. Antes se justificava a partir de poucas áreas do conhecimento como o espiritualismo, astrologia, a ioga.
A partir da necessidade de se explicar de uma forma mais concreta, foi surgindo, então, novas áreas do conhecimento, como filosofia, matemática, arquitetura, engenharia, para que tudo fosse explicado de uma maneira mais racional.
As antigas áreas do conhecimento não são mais capazes de explicar os novos fenômenos, pois as experiências vividas no século XX são diferentes e transmitem inúmeros questionamentos e indagações.
Seguindo a discussão do texto, Benjamin usa o vidro como inimigo do mistério e inimigo da propriedade. Ele toma o vidro como exemplo para exemplificar a questão da individualidade por ele ser transparente.
O vidro é usado para manter um padrão das coisas limpas, para coletivizar os lugares. O mistério era dado pelo uso do lugar antigamente, porem a cultura do vidro, como chama Benjamin, faz essa história desaparecer, o mistério atual se perde.
A idéia do vidro também é usada para se mostrar o padrão das coisas, como antigamente era o quarto burguês, que era da mesma forma em qualquer lugar. Não importa o que se faz em determinado lugar, é preciso seguir os padrões, usar determinado tipo de sofá colocado em uma determinada posição de acordo com a posição do tapete e por ai vai. O padrão foi construído a partir de uma cultura, porem muda-se a cultura e é construído um novo padrão que é seguido.
O padrão sempre existiu porem hoje não é possível mais explicar ou transmitir essas histórias dos padrões, como antigamente. Perdeu-se a capacidade de explicar o padrão que era possível contar histórias e acontecimentos que justificavam o padrão.
Continuando a discussão foi colocado que nossos sonhos são resultados dos padrões colocados das mais diversas formas pela televisão, revistas, etc. Os sonhos também são padronizados. Os sonhos não são para as pessoas se libertarem dos acontecimentos cotidianos, e sim uma afirmação do que acontece nessa vida cotidiana. Os sonhos teriam que ser o lugar de se aventurar por lugares ainda desconhecidos.
Para se fazer, construir, uma narração ou texto pode-se utilizar três elementos, a palavra, o objeto ou o espaço.
A confecção de um sapato por exemplo pode ser contada através de palavras, onde o artesão irá contar como ele elaborou aquele sapato, todo o processo de produção, desde a obtenção das matérias primas até o ultimo toque. Pode-se também contar essa experiência apenas com o objeto, onde ele evidenciará como é o trabalho manual do artesão, seu estilo de confecção.
As experiências compartilhadas através das histórias contadas podem ser aproveitadas não para fazer igual, mas sim para aproveitar um conselho, uma mensagem.
A partir de toda a discussão feita chegou a palavra SONHO como palavra chave para um breve resumo da aula.
Tomando a palavra chave, pensa-se primeiramente no significado mais usual que é aquele conjunto de imagens que se apresentam durante o sono, uma utopia, uma ficção, uma fantasia.
Entretanto resolvi buscar um outro viés da palavra sonho para elaborar o conceito e elaborar uma relação com toda a discussão.
Busquei conceituar sonho como aquele biscoito feito de ovos e farinha que cada receita traz uma peculiaridade.
Porque então buscar essa conceituação a princípio estranha? Toda a discussão foi baseada na questão de como a história é transmitida, como as experiências são transmitidas hoje em dia. Será mesmo que há uma pobreza nessa transmissão?
Então, o sonho é uma prova de que as experiências hoje ainda são transmitidas. A receita do sonho, por exemplo, pode ser passada de mãe para filha, de avó para neta, e assim por diante. É claro, como foi a discussão, a absorção dessa receita vai depender de como as pessoas irão receber essa mensagem, qual seu interesse.
Também é notório que atualmente é muito mais difícil que a mãe ou a avó transmita essa receita que é feita de forma artesanal, pois assistindo, por exemplo, programas de culinária, são estabelecidos padrões de como deve ser feito esse sonho, quais produtos devem ser utilizados. Então as experiências vividas entram em “guerra” com esse estabelecimento de padrões, com essa alienação ao consumo cada vez mais forte na nossa sociedade.

Links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Benjamin
http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/frankfurt/benjamin/benjamin_index.html
http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/frankfurt/benjamin/benjamin_02.htm
http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2871,1.shl
http://portalamazonia.globo.com/culinaria.php?idReceita=309
http://www.fabianomoraes.com.br/escritos.asp
http://www.redebrasileiradetransdisciplinaridade.net/file.php/1/Artigos_dos_membros_da_Rede/Trabalhos_apresentados_no_II_Congresso_Mundial/Artigo_Cleo_Bussato.doc

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