sexta-feira, 14 de setembro de 2007

[doc-m] thaís [peixe grande]

A aula de Educação Patrimonial e Turismo do dia 17/08 – sexta feira, iniciou-se com a leitura da introdução do livro “Aqui está Nova York”, de E. B. White, traduzido para o português por Ruy Castro. O livro fala sobre a experiência de White ao visitar Nova York, e assim, ele conta as belezas que foram vistas, os lugares visitados e as sensações provocadas. Entretanto, alguns anos mais tarde, Roger Angell (enteado de White) inseriu no mesmo livro uma introdução falando sobre as transformações ocorridas no espaço, porém, assim como White, se recusou em atualizá-las por acreditar que cabe ao leitor visitar a cidade e ver por si mesmo as mudanças provocadas pelo tempo e pela própria sociedade.
Apesar de afirmar que o novo texto deveria se chamar “Aqui estava Nova York”, Roger retrata nesta introdução que todas as coisas visitadas anteriormente por White, não existem como eram, porém, não deixaram de existir. Ou seja, não quer dizer que as sensações provocadas anteriormente nos anos 40, não existam mais, Nova York ainda continua sendo uma cidade maravilhosa, deslumbrante e cheia de pessoas e coisas a serem vistas e descobertas.
Para exemplificar melhor o texto e as transfomações ocorridas com o tempo, o professor mencionou o “bibôque”, brinquedo antigo que não é mais utilizado pelas crianças de hoje, que no entanto, deu lugar a novos tipos de brinquedos, como o “Video Game Wii”, que serve para toda a família. Em outras palavras, este é o curso natural da vida e das coisas, algumas se transformam e outras se atualizam a partir das necessidades da sociedade, e com certeza, nunca deixam de existir nas lembranças das pessoas.
Para retratar melhor os temas em discussão, como lembranças, memória e tempo, após a leitura, assistimos ao filme “Peixe Grande” uma comédia dramática dirigida por Tim Burton e marcada por uma rede entrelaçada de histórias reais e imaginárias, que conta a jornada de Edward Bloom. No filme, o protagonista narra suas estórias e façanhas que vão do encantador ao surreal, misturando sagas épicas sobre gigantes e lobisomens, unindo cantoras coreanas, bruxa de olho de vidro capaz de prever o futuro - e, é claro, um peixe grande que se recusa a ser capturado. Apesar de algumas pessoas não acreditarem em tudo o que ele diz, para Edward o que importa mesmo é a maneira como as coisas são sentidas e contadas. E talvez essa seja a melhor maneira de aceitar sua vida, entre os enormes feitos e grandes fracassos.
Como exposto no filme “Peixe Grande” e no texto “Aqui está Nova York”, a memória muitas vezes é descrita como a capacidade de lembrar o passado. Por "memória" entendemos nossa capacidade de recitar um poema de cor, seguir um trajeto diário sem tropeços, ou ainda recordar fatos vivenciados no passado e aprender através deles. Entretanto, esses aspectos da memória, que durante muito tempo foram estudados como capacidade individual de lembrar, são associados atualmente, a aspectos socioculturais.
A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa. Mas na verdade, a memória deve ser entendida também, ou, sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações e mudanças constantes.
Tais acontecimentos podem ser vividos pessoalmente; vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer; ou até mesmo, acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou, mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não, como é o caso do filme em questão.
Para tanto, fica a idéia de que as coisas modificam ou até mesmo se extinguem com o passar do tempo, mas no imaginário e nas lembranças das pessoas elas nunca deixam de existir. Como dito por Hobsbawn, no texto estudado em sala: “O sentido do Passado”, nenhuma historia consegue ser contada fielmente como aconteceu e, sendo assim, todas elas são uma invenção de fantasias acrescidas aos fatos que realmente existiram. Afinal, uma historia ao ser recontada necessita da memoria das pessoas e cada um tem um sentimento e dá uma importancia diferente às coisas.
Desta forma, talvez a maior lição que se deseja passar com o filme é que as pessoas podem se transportar para uma dimensão imaginária, afastando a fatalidade do cotidiano, enquanto o absurdo gera uma insuspeita noção de liberdade. Enfim, um homem conta tantas vezes suas estórias que acaba se tornando uma delas.
Assim, a Palavra Chave escolhida para representar a aula foi “Peixe Grande”. Esta expressão pode se apresentar com vários significados. Primeiramente, ao que diz respeito ao filme, a expressão remete a estórias de pescadores, que se voltam para o imaginário, fatos criados ou acrescidos de fantasias. Além disso, talvez o melhor significado desta expressão, no contexto do filme e do livro, seja que as coisas devem ser modificadas no mesmo curso que a vida da sociedade, ou seja, as pessoas passam a querer mais, se tornam “Peixes Grandes” maiores do que lhes é oferecido e, para tanto, talvez seja realmente necessário que as coisas se transformem, se modifiquem e até mesmo se acabem, dando lugar a novas coisas e novas lembranças.


biografias
.Ruy Castro (tradutor do livro “Aqui está Nova York”) nasceu em 1948, em Caratinga, Minas Gerais. É um jornalista, tradutor e escritor que tem se destacado em biografias e reportagens extensas que vieram a se desenvolver na qualidade de livro-reportagem. A partir de suas obras, consagrou-se como um dos escritores brasileiros mais respeitados na atualidade.
Em mais de 30 anos trabalhando como repórter, já integrou as redações de Pasquim, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Veja São Paulo, IstoÉ, Playboy, Status e Manchete, sobretudo nas seções culturais. Em seu depoimento, lembra de seu primeiro emprego, em 1967, no jornal Correio da Manhã, onde conviveu com Paulo Francis.
Como tradutor, transpôs para o português dois clássicos: Frankenstein, de Mary Shelley, e Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Iniciou sua carreira de escritor com a publicação do primeiro volume de uma trilogia de livros sobre a irritação, o aborrecimento e a destemperança, O Melhor do Mau Humor (1989), seguido de O Amor de Mau Humor (1991) e O Poder de Mau Humor (1993).
Como biógrafo, uniu o estilo de narrador refinado a seu talento para decifrar a alma de personalidades ilustres lançando livros como Chega de Saudade - A História e as Histórias da Bossa Nova (1990), O Anjo Pornográfico - A Vida de Nelson Rodrigues (1992), Saudades do Século XX (1994), Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha (1995) e, Ela é Carioca - Uma Enciclopédia de Ipanema (1999).
.Elwyn Brooks White (escritor do livro “Aqui está Nova York”) nasceu em Mount Vernon / Nova Iorque em 11 de julho de 1899 e foi um excelente escritor norte-americano.Trabalhou como repórter e copiador de anúncios até entrar para a revista The New Yorker, em 1926, onde escreveu artigos editoriais. White também contribuiu para a seção Notas e Comentários da revista de 1927 a 1976. Também escreveu para a revista Harper's Bazaar, cujos textos foram reunidos em 1942 no livro One Man's Meat. White graduou-se em sete faculdades e universidades norte-americanas e foi membro da Academia Americana (American Academy).
White recebeu a medalha de ouro do Instituto Nacional de Artes e Literatura (National Institute of Arts and Letters) por seus artigos e críticas. Foi também reconhecido com um prêmio Pulitzer especial pelo conjunto de sua obra em 17 de abril de 1978. Algumas de suas obras foram: The Fox of Peapack, Every Day Is Saturday, One Man's Meat,The Wild Flag, The Second Tree from the Corner, The Ring of Time, Letters of E.B. White, Here Is New York, Writings From the New Yorker, além de livros infantis como: Stuart Little, Charlotte's Web e The Trumpet of the Swan.
.Timothy William Burton - Tim Burton (diretor do filme “Peixe Grande”) nasceu em 1958, no do sul da Califórnia, onde passou a infância desenhando, assistindo a velhos filmes de terror e lendo a obra de Edgar Allan Poe. Quando estudava animação no Instituto de Artes da Califórnia, foi descoberto por uma executiva dos Estúdios Disney, para quem passou a trabalhar. Depois de obter a liberdade de desenvolver seus próprios projetos, estreou na direção em 1982 com o curta animado Vincent, um tributo ao ídolo Vincent Price. A inesperada acolhida do público aos seus dois primeiros longas, os cômicos “As Grandes Aventuras de Pee Wee” e “Os Fantasmas se Divertem”, fizeram de Burton o escolhido para dirigir “Batman”. O estrondoso sucesso do filme lhe trouxe um improvável poder em Hollywood, considerando a ousadia habitual de seus projetos. Burton ainda voltou ao homem-morcego em “Batman o Retorno”, por alguns considerado melhor que o primeiro.
No auge da criatividade realizou a fábula “Edward Mãos de Tesoura”, provando que conseguia dotar de humanidade um personagem absolutamente inverossímil. O filme marcou o início da bem-sucedida parceria com o ator Johnny Depp, continuada em “Ed Wood”, uma cinebiografia daquele que foi considerado o pior realizador norte-americano de todos os tempos, e “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”. Em 2001 foi contratado para dirigir uma refilmagem de “Planeta dos Macacos” e conseguiu mais um grande sucesso de bilheteria.

notícias
http://nuevomundo.revues.org/document1499.html - Artigo de Sandra Jatahy Pesavento - Palavras para crer. Imaginários de sentido que falam do passado
http://www.urutagua.uem.br//03teles.htm – Artigo: Passado, memória e história:o desejo de atualização das palavras e feitos humanos de Edson Luis de Almeida Teles
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010269092006000300014&script=sci_arttext - Livro: O tempo e a cidade de Ana Luiza Rocha e Cornélia Eckert.
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104.pdf - Artigo sobre Memória e Identidade Social de Michael Pollak.
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_23/rbcs23_06.htm - O Pesadelo da Amnésia Coletiva - um estudo sobre os conceitos de memória, tradição e traços do passado de Myrian Santos.
http://www.gradiva.pt/capitulo.asp?L=100184 – Livro Memoria de Nova Iorque e outros ensaios de João Lobo Antunes.

sites
http://www.ufmg.br/festival1006257.shtml - 39º Festival de inverno de Diamantina da UFMG
http://www.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc/index.php?p=29108&more=1&c=1&pb=1 - A cultura como patrimônio imaterial.
http://www.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc/index.php?p=28951&more=1&c=1&pb=1 – Apoio e fomento ao patrimônio cultural imaterial
http://www.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc/index.php?p=29068&more=1&c=1&tb=1&pb=1 - Prêmio Santiago de Compostela de Cooperação Urbana
http://www.cultura.gov.br/noticias/na_midia/index.php?p=29171&more=1&c=1&tb=1&pb=1R$ - 2,7 milhões para garantir a preservação de Ouro Preto

Nenhum comentário: