segunda-feira, 24 de setembro de 2007

[doc-m] camila mesquita [vinho]

O premiado filme Mondovino de Jonathan Nossiter, cineasta e famoso enólogo, apaixonado pelo Brasil, é um documentário sobre o mundo dos vinhos. Não é um documentário qualquer, é uma investigação dos bastidores desta indústria que hoje mobiliza bilhões de dólares. O filme relata o modo de pensar, valores que se devem agregar, a produção, uma luta de poder entre as melhores famílias produtoras de vinho e críticos que disputam o valor de sua palavra no mercado, enfim, ele tenta dar um paralelo entre a atualidade capitalista dos vinhos e a tradição do modo de fabricação dos melhores vinhedos que já existiu.
Segundo o crítico brasileiro, Daniel Gonçalves Maia em seu blog, (vide bibliografia) ele define o longa como: “uma luta por um poder que passa ao lado do comum dos enólogos, enófilos, amantes do vinho em geral, homens de quaisquer classes que amam o vinho... É uma luta numa mesma classe e só dela (podia até não estar em causa o vinho). É só uma opinião... mas o mundo do vinho sempre esteve impregnado de histórias de miséria de homens da Terra (sim, o vinho tem destas histórias, algumas já editadas, algumas aqui ao lado, umas recentes, outras menos). Esta é mais uma luta de poder com um objetivo egoísta”.
Neste documentário, Jonathan Nossiter uniu duas de suas paixões: o cinema e o vinho. Os protagonistas do filme são: Yvonne Hegoburu (Jurançon, França), Battista e Lina Columbu (Sardenha, Itália), Michel Rolland (Burdeos, França), Aimé Guibert (Aniane, França), familia Mondavi (Napa, Califórnia), familia De Montille (Volnay, França), Robert Parker (Baltimore, Estados Unidos), Aubert de Villaine (Vosne-Romanée, França), Bill Harlan (Napa, Califórnia), Patrick Léon (Burdeos, França), Neal Rosenthal (Nova York, Estados Unidos), Michael Broadbent (Londres, Grã-Bretanha), Jean-Luc Thunevin (Burdeos, França), Jean-Charles Boisset (Nuits-St-Georges, França), Bernard Magrez (Burdeos, França), familia Frescobaldi (Florença, Itália), familia Antinori (Florença, Itália), Salvatore Ferragamo (Il Borro, Itália), familia Etchart (Cafayate, Argentina) e Antonio Cabezas (Cafayate, Argentina). O filme se passa nos melhores locais onde se produzem vinho no mundo, relatando o modo de produção (peculiar de cada família e região) que é passado de geração para geração. Retrata muito isso, quando fala e mostra as belíssimas propriedades das famílias Mondovi (Vale do Napa – Califórnia – E.U.A - (a dinastia de vinicultores mais famosa da Califórnia, quiçá do mundo) – que de tão capitalista, (será porque são americanos?????) sonham em plantar uvas e terem uma ótima produção como as de hoje, até mesmo em Marte. E a família De Montille em Volnay-França onde o pai dessa geração conta sobre a concepção do vinho em sua vinícola, a melhor e maior de Borgonha, relata o fato de sua filha não trabalhar em sua vinícola (ambos têm gênios parecidos e sempre discordam suas opiniões quanto aos vinhos – daí o fato de ela não trabalhar com o pai e sim na de um outro concorrente), do esforço e dedicação que seu outro filho tem com a produção.
Nesse vai e vem das ilustres famílias produtoras de vinhos, o roteirista mostra o dia a dia do famoso consultor-enólogo-celebridade, Michael Rolland, que trabalha com mais de 100 empresas ao redor do mundo (desde Brasil a Índia. Segundo o consultor, se tivesse plantações em Marte, ele ira dar consultoria lá), onde seu lema é “Fazer cada vez melhor”. Há um grande contraste das histórias dos produtores, com o consultor Rolland, que não sai de sua Mercedes com seu motorista-secretário, fazendo suas consultorias caríssimas e o crítico mais célebre e “ditador de sabores” (frase que encontrei para descrevê-lo, como retrata o filme) em sua casa desordenada e seus normais cachorros babões.


Michael Rolland X Robert Parker
Todos esses personagens (além do representante de vinhos em Nova Iorque e os trabalhadores haitianos que com o passar do tempo adquirem um certo conhecimento sobre vinhos) se contrastam com o que cada um dos “professores do vinho” têm a ditar sobre determinada produção, a política e a guerra entre a diversidade e a padronização da produção (Parker X Rolland). Nesta batalha entre os pequenos produtores versus grandes industriais (o capitalismo exagerado dos Estados Unidos que é bem enfatizado em várias cenas do filme), podendo se assim, apontar os mocinhos e vilões dessa humana trama.

Entrevista com o diretor e produtor do filme Mondovino:

Jonathan Nossiter
“O mundo do vinho é mafioso”
Fluente em seis idiomas, entre eles o português, o norte-americano Jonathan Nossiter dirigiu o polêmico Mondovino, sucesso no Festival de Cannes em 2004 e que chega ao País no dia 6. Formado em grego clássico e artes plásticas, Jonathan foi assistente no filme Atração Fatal, aos 23, e, dois anos depois, se tornou sommelier em Nova York. Casado com a fotógrafa brasileira Paula Prandini, o diretor, que atualmente mora no Rio, falou a Gente sobre os bastidores do
mundo do vinho, ou, Mondovino.
Como surgiu a idéia de fazer Mondovino?
Eu queria mostrar o que acontece no mundo do vinho. O vinho é
simples, representa a troca do ser humano com a natureza e com
outros seres humanos. Não é um lugar de esnobismo. Infelizmente, algumas pessoas utilizam esse líquido mágico de amizade como meio
de poder. Não gosto disso.
Vamos falar dos grandes atores. O que acha de Michel Rolland (maior consultor de vinícolas do mundo)?
É um homem muito engraçado, que gostei humanamente. Mas ele mete medo porque tem um poder surpreendente. Se você coloca Michel Rolland dentro de seu vinho, certamente ele vai se tornar um vencedor. É uma receita fácil para vender. Não quero dizer que ele faça coisas ruins, muita gente adora, mas acredito que podem ser perigosas porque padronizam o gosto. É como um McDonald’s de luxo.
E quanto a Robert Parker (crítico de vinho de maior prestígio internacional)?
Quando tive um contato mais próximo com ele, minha impressão foi a de entrar na mente de Bush. Parker tem a convicção de que está democratizando o mundo do vinho, com o poder do seu gosto. Não há nenhum crítico como ele, em nenhuma área, com o poder de causar efeito no mundo inteiro, em seu caso, mudando os preços dos vinhos. É muito perigoso quando uma pessoa tem poder demais.
Recebeu ameaças dos grandes produtores?
O Mondovino é uma pequena voz nesse mar de marketing mundial.
Na França, teve um sucesso muito grande com os pequenos produtores. Mas os poderosos, principalmente os americanos, dizem que sou um traidor, um mentiroso. O mundo do vinho é muito mafioso. Recebi dezenas de ameaças de processo. Mas não fiz nada de errado. No filme, as pessoas falam por si mesmas. É claro que não fui nem pretendi ser neutro. Ser neutro no mundo é ser covarde.
Que estilo de vinho você prefere?
Gosto de todos. Nunca poderia fazer uma lista. O prazer do vinho é que ele é tão complexo quanto o ser humano. Há uma possibilidade infinita de complexidade. Cada dia eu acordo com a possibilidade de encontrar pessoas novas. E também de provar um vinho diferente.

Entrevista concedida a Fabio Farah na revista Isto é Gente em 09/05/2005.
Fonte:
http://www.terra.com.br/istoegente/299/diversao_arte/gastronomia_jonathan.htm acessado em 30/09/2007.

Links complementares:
Biografia (mini), artigo sobre seus feitos no Brasil, dicas de vinhos brasileiros e filmes para se assistir tomando um bom vinho:
http://blogvisao.wordpress.com/?s=Jonathan+Nossiter
Site oficial do filme:
www.mondovinofilm.com (em inglês). Fala sobre a história do filme, links a respeito de vinhos, o trailler, críticas, os vinhos que são retratados no filme, etc...
Site oficial do crítico Robert Parker:
www.erobertparker.com (em inglês). Site cheio de informações sobre vinhos de todos os cantos do mundo, o vinho do dia, biografia do crítico americano, livros, seminários, glossário sobre os termos técnicos do mundo dos vinhedos, ofertas de vinhos, entre outros...
Site oficial da maior e mais conceituada revista destinada ao vinho:
www.winespectator.com (em inglês)
Artigo do jornalista Ricardo César que escreve sobre vinhos no site, portal do exame:
http://portalexame.abril.com.br/blogs/cartadevinhos/listar11.shtml .Artigo muito interessante que fala sobre bons vinhos e o encontro do jornalista Ricardo César, com o renomado sommelier e consultor francês, Michael Rolland, além das sugestões e notas de bons vinhos que o célebre consultor indica e um pouco da história do mesmo.
Blog do crítico Daniel Gonçalves Maia, onde relata sua opinião a respeito do filme, dos “atores reais”, gostos de vinhos, além de outros...
http://danielgoncalvesmaia.blogspot.com/2007/08/mondovino.html

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