quarta-feira, 24 de outubro de 2007

[doc-m] livia [participação]

A aula do dia 05 de setembro girou em torno da importância de se estudar o método de educação patrimonial, pensando a participação da comunidade, da população com relação ao patrimônio. Para melhor entender essa importância, foi utilizado a escala de participação, do livro "A prisão e a Ágora" do autor Marcelo Lopes de Souza. Para fazer uma ligação com a aula anterior, o professor começou explicando alguns conceitos sobre Educação Patrimonial.
O primeiro conceito que foi discutido foi à educação patrimonial como um "processo ativo de conhecimento, apropriação, e valorização da herança cultural propiciando a geração e produção de novos conhecimentos, um processo contínuo de criação".
A partir desse conceito pode-se perceber que a educação patrimonial não é só o fazer e o valorizar, mas também pensar se está gerando e produzindo novos conhecimentos.
Outro conceito que foi discutido é: "Educação patrimonial leva a valorização do fazer cultural, como propõe Paulo Freire em sua idéia de 'empowerment', reforço e capacitação para o exercício de auto-afirmação". Primeiro é importante conceituar a palavra empowerment que quer dizer dar poder ao indivíduo. Já o conceito nos mostra que educação patrimonial é um processo de construção da autonomia, processo de investigação e um processo produtivo que estão relacionados. O que está em jogo é capacitar, tanto a comunidade, como os turistas e nós turísmologos para entender um processo de investigação que visa a autonomia individual, ou seja, é fazer com que as pessoas entendam que aquela manifestação cultural que ele está presenciando, não é intocável, ou seja, que ele faz parte daquele processo.
Já que a educação patrimonial é um processo de construção da autonomia, é preciso pensar qual é o grau de participação das pessoas nessa construção, e para isso foi utilizada a escala de participação do Marcelo Souza Lopes. Esta escala de participação serve para identificar qual o grau de participação das pessoas na educação patrimonial. Além de ser um processo de conscientização, e aprendizado na qual o turista irá perceber qual o papel dele dentro daquela manifestação cultural.

A escala é divida em 8 níveis de participação que podem ser subdivididas em:

Não participação -

Ø Coerção - É utilizar a força, física ou psicológica, para conseguir chegar a um objetivo. Com relação ao turismo podemos dizer que quando se quer que uma edificação histórica fique visível para o turista, você acaba com os vestígios e as marcas daquele lugar, e também, expulsa a comunidade do local utilizando a coerção, ou seja, chamando a polícia. Ao invez de introduzir essa comunidade no processo de participação de construção cultural. Não existe a vontade de investigação, de dar autonomia ao individuo mas sim de resolver um problema.

Ø Manipulação - É uma forma de indução, ou seja, a preocupação não é a de ouvir o que a pessoa tem a dizer e sim manipular a informação para que ela aconteça da forma que você quer, não dando nenhum tipo de informação sobre a intervenção cultural. Exemplo: questionários realizados na comunidade, mas que são formulados de acordo com os interesses de quem os aplica para que o seu projeto aconteça, e não de acordo com os interesses da comunidade. Assim, o questionário acaba sendo um método de manipulação da opinião pública.

Pseudo Participação

Ø Informação - Consiste em dar a informação para as pessoas de forma mais clara, assim como você vai receber essa informação. Você informa a comunidade sobre o seu projeto e a comunidade informa onde e o que ela quê que se torne um patrimônio. Mas em contrapartida essa informação ela acaba se perdendo quando não há interesse em um dos lados, quando ela não é de importância para quem a está recebendo. Na informação não é construído algo novo.

Ø Consulta - Consiste na consulta há um interesse no que é informada a pessoa, mas não necessariamente vai ser atendido o que foi pedido. Nesse caso quem aceita ou não o que foi pedido é quem tem mais poder.

Ø Cooptação - Fazer um convenio com as lideranças da comunidade para que seja implantado o projeto. Pode começar como uma participação e terminar em uma pseudoparticipação e até numa não participação.

Co-responsabilidade

Ø Parceria - Neste caso a comunidade o turísmologos e o poder público, compartilha informações, e coletivamente são tomadas as decisões. Mas não significa que essa parceria vai permanecer durante todo o processo do projeto, ela acontece somente nos momentos onde o processo de aprendizado foi provocado. A parceria não precisa necessariamente ser financeira, ela pode ser cultural.

Ø Delegação de poder - Dar responsabilidade a cerca do projeto que está sendo vendido, dando o poder de responsabilidade a todos os agentes envolvidos neste projeto.

Participação autônoma

Ø Auto gestão - Neste processo todos os agentes envolvidos (comunidade, turistas, turísmologos, poder público e privado) participam coletivamente das decisões e o que está em jogo é sempre o interesse de todos. Este processo é o mais difícil, pois é onde o interesse de um agente tem que interligar com o interesse coletivo.
Concluindo, é preciso entender que esses níveis não estão distantes uns dos outros, eles acabam se interligando.
Esta escala de participação é importante, pois nos leva a pensar quais são as dinâmicas que interessam para se pensar educação patrimonial.

[sobre o livro "a prisão e a ágora"]
A Prisão e a Agora, novo livro de Marcelo Lopes de Souza, versa sobre planejamento urbano, mas não do ponto de vista da adequação dos usos do solo ou da estética das paisagens - não propriamente inúteis em si mesmas, mas tão amiúde a serviço da segregação, do controle social e da alienação -, e sim das relações de poder inscritas no espaço e implicadas na produção do espaço.

Planejar e gerir uma cidade não significam, apenas, planejar e gerir coisas, mas sim, acima de tudo, planejar e gerir relações sociais. Seja para amenizar o embrutecimento representado e condicionado pelas cidades atuais, seja para conquistar cidades substancialmente diferentes e mais justas, é preciso refletir e agir levando em conta o que mais importa: a dinâmica das relações sociais, em especial a dinâmica das relações de poder, e os vínculos disso com o espaço, na sua dupla qualidade de produto e condicionante das relações sociais. A escala local, certamente, é privilegiada na análise, mas privilégio não quer dizer exclusividade: os problemas que se manifestam localmente não se deixam explicar somente por fatores de abrangência local, e vencer desafios locais depreende, cada vez mais, saber enfrentar desafios também em outras escalas.
A Prisão e a Agora trata, pragmaticamente, tanto da falta de liberdade e as restrições crescentes à liberdade efetiva, no cotidiano das grandes cidades contemporâneas (metáfora da "prisão"), quanto das possibilidades de se tentar ampliar os espaços democráticos mesmo em meio a condições estruturais adversas, embora contando com ventos conjunturalmente favoráveis. Mas não se quer, aqui, ser um mero "consultor para desenvolvimento com horror mínimo", quimera de um "progressismo" de curto fôlego e ainda mais curta visão.

biografia
Marcelo Lopes de Souza
professor da UFRJ, onde coordena o Núcleo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial (NuPeD), e pesquisador do CNPq. É autor, entre outros livros, de Mudar a cidade e A prisão e a ágora, ambos publicados pela editora Bertrand Brasil.
Títulos desse autor:
1985 - Bacharel em Geografia (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ).
1988 - Especialista em Sociologia Urbana (Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ).
1988 - Mestre em Geografia (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ).
1993 - Doutor em Geografia (área complementar: Ciência Política) (Eberhard-Karls-Universität Tübingen, Alemanha).

biografia
Paulo Freire
Nascido em 19 de setembro de 1921 de pais de classe média no Recife, Brasil, Paulo Freire conheceu a pobreza e a fome durante a depressão de 1929, uma experiência que o levaria a se preocupar com os pobres e o ajudaria a construir seu método de ensino particular.
Freire entrou para a
Universidade do Recife em 1943, para cursar a Faculdade de Direito, mas também se dedicou aos estudos de filosofia da linguagem. Apesar disso, ele nunca exerceu a profissão e preferiu trabalhar como professor numa escola de segundo grau ensinando a língua portuguesa. Em 1944, ele se casou com Elza Maia Costa de Oliveira, uma colega de trabalho. Os dois trabalharam juntos pelo resto de suas vidas e tiveram cinco filhos.
Em 1946, Freire foi indicado Diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no
Estado de Pernambuco. Trabalhando inicialmente com analfabetos pobres, Freire começou a se envolver com um movimento não ortodoxo chamado Teologia da Libertação. Uma vez que era necessário que o pobre soubesse ler e escrever para que tivesse o direito de votar nas eleições presidenciais.
Em 1961, ele foi indicado para diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife, e em 1962 ele teve sua primeira oportunidade para uma aplicação significante de suas teorias, quando ele ensinou 300 cortadores de cana a ler e a escrever em apenas 45 dias. Em resposta a esse experimento, o Governo Brasileiro aprovou a criação de centenas de círculos de cultura ao redor do país.
Em 1964, um golpe militar extinguiu este esforço. Freire foi encarcerado como traidor por 70 dias. Em seguida ele passou por um breve exílio na Bolívia, trabalhou no Chile por cinco anos para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização de Agricultura e Alimentos da Organização das Nações Unidas. Em 1967, Freire publicou seu primeiro livro, Educação como prática da liberdade.
O livro foi bem recebido, e Freire foi convidado a ser professor visitante da Universidade de Harvard em 1969. No ano anterior, ele escrevera seu mais famoso livro, Pedagogia do Oprimido, o qual foi publicado em varias linguas como o espanhol, o inglês em 1970, e até o Hebraico em 1981. Por ocasião da rixa política entre a ditadura militar e o socialista-cristão Paulo Freire, ele não foi publicado no Brasil até 1974, quando o General Geisel tomou o controle do Brasil e iniciou um processo de liberalização cultural.
Depois de um ano em Cambridge, Freire se mudou para Geneva, Suíça, para trabalhar como consultor educacional para o Conselho Mundial de Igrejas. Durante este tempo Freire atuou como um consultor em reforma educacional em colônias portuguesas na África, particularmente Guinea Bissau e Moçambique.
Em 1979, ele já podia retornar ao Brasil, mas só voltou em 1980. Freire se filiou ao Partido dos Trabalhadores na cidade de São Paulo e atuou como supervisor para o programa do partido para alfabetização de adultos de 1980 até 1986. Quando o PT foi bem sucedido nas eleições municipais de 1988, Freire foi indicado Secretário de Educação para São Paulo. Em 1986, sua esposa Elza morreu e Freire casou com Maria Araújo Freire, que também seguiu seu programa educacional. Em 1991, o Instituto Paulo Freire foi fundado em São Paulo para estender e elaborar suas teorias sobre educação popular. O instituto mantem os arquivos de Paulo Freire. Freire morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997 às 6h53 no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações na operação de desobstrução de artérias, mas teve um infarto

PALAVRA CHAVE:
Participação
Elaborar projetos educativos voltados para a disseminação de valores culturais, formas e mecanismos de resgate, preservação e salvaguarda, assim como para a recriação e transmissão desse patrimônio às gerações futuras é, sobretudo, um projeto de formação de cidadãos livres, autônomos e sabedores de seus direitos e deveres.
A participação da sociedade nessas iniciativas, compartilhando projetos pode indicar que existe uma democrácia na estruturação de ações educativas que hoje lidam não apenas com a reafirmação de valores consagrados, mas com o desafio de preparar as pessoas para a permanente semeadura de novos valores. O que se pode pensar é que tal tarefa precisa de algumas mediações e articulações, e será pouco produtiva se o Estado não conseguir desenvolver mecanismos para escutar a comunidade. Assim como abrir canais de participação na sociedade que gera, e reproduz o processo cultural no qual se inserem os objetos, as manifestações, os símbolos e os significados tão caros ao patrimônio e à memória.
A participação será fictícia ou retórica se os atores responsáveis pelos projetos não assumirem as responsabilidades e desconhecerem os direitos que adquirem a partir das negociações que fizerem. Cabe ao Estado esclarecer, informar, tornar transparentes seus processos e mecanismos de atuação; cabe à sociedade cobrar, fiscalizar, usar com criatividade a liberdade que tem de buscar alternativas para responder à realidade.
O bom processo educativo é aquele que ensina a pensar e não a repetir valores do educador; que se baseia no respeito à diferença e valorização da diversidade e que, desta forma, resiste aos processos de homogeneização do saber e sua transmissão, assim como de globalização indiscriminada e esmagamento dos valores culturais. É aquele que transmite os valores culturais “da moda” e os tradicionais; que constrói com segurança e bom fundamento a ponte necessária entre o passado e o futuro; que relativiza o tempo e intensifica a responsabilidade do papel de cada um perante sua cultura e a dos outros. A boa educação tempera o sujeito tornando-o apto a ser crítico em relação a propostas educativas que contribuam para a submissão e sujeição do educando e da sociedade a qual pertence.
Assim, a educação assumirá seu papel de agente no processo social, produtora de saber e não apenas consumidora e reprodutora de conhecimentos dados; as ações educativas voltadas para a preservação devem contribuir para a formação de sujeitos ativos e livres na construção de sua própria vida e da dimensão coletiva a ela inerente. É essa dimensão coletiva, conquistada e reafirmada, que permite ao indivíduo pensar outros significados para termos como cidadania, participação, responsabilidade e pertencimento.

reportagens

http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=147
http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=134
http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=3562
http://www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio/artigos.php?cod=21&bibliografia=0&
http://www.educacional.com.br/articulistas/articulista0003.asp

links
www.turismo.gov.br/
www.patrimoniocultural.org.br/
www.cultura.gov.br/
http://www.iepha.mg.gov.br/
http://www.cultura.mg.gov.br/

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