sexta-feira, 24 de agosto de 2007

[doc-n] erika [mentira]

A educação a qual as crianças são submetidas hoje, segundo Hannah Arendt cria a infantilização frente à realidade em que se vive. Essa infantilização é gerada pela falta de interação com outras pessoas e realidades diferentes. Com isso o indivíduo não aprende a agir e suas reações frente à realidade são limitadas. No passado as brincadeiras infantis eram realizadas em grupos, hoje devido a mudanças culturais, sociais e tecnológicas, foram modificadas e inovadas para serem realizadas individualmente.
Com o isolamento os indivíduos não trocam vivências e não criam o senso de coletividade. A própria atividade turística acaba sendo realizada isoladamente, pois antes de realizar uma viagem, a pessoa coleta informações do local que será visitado e quando chega ao destino, os seus receptores acabam passando por meras “paisagens” locais. Não há interação entre o visitante e a comunidade, tornando individual a imersão nos patrimônios.
Essas mudanças culturais não acontecem rapidamente elas são gradativas, mas causam grandes impactos no mundo. A homossexualidade é um exemplo de mudança que estabeleceu aos poucos durante os anos, mas não se sabe realmente quando iniciou, tem se os registrado dos acontecimentos marcantes que foram divulgados e documentados. Outro exemplo é a dificuldade do ser humano de se expressar durante o século XVIII, o autor Peter Gay escreve sobre essa dificuldade e o uso de cartas e diários como forma de expressão.
Quando o indivíduo busca informações de um local, comunidade, fatos, mudanças culturais, sociais e econômicas ele está buscando pelo passado. O passado que é uma representação não fiel de uma realidade e que se faz conhecido por livros, fatos, objetos entre outros.
O estudo do passado deveria ter como objetivo o desenvolvimento da inteligência coletiva, compartilhar informações, acontecimentos e fatos. Mas o que se vê é a padronização, ou seja, o passado serve de padrão para o presente, não pode ser esquecido e sim preservado.
Por faltar algo que é inacessível para definir o ponto inicial de determinado acontecimento ou mudança na sociedade, o olhar se torna incompleto abrindo espaço para a imaginação e deduções, é, portanto um esforço criativo.
A inacessibilidade a fatos da história favorece a manipulação e invenção. A pesquisa de objetos conta uma parte da história, os fatos que foram narrados por terceiros sofrem modificações de acordo com a vivência dos mesmos. O conjunto de fatos, relatos e objetos pode ser modificado de acordo com os interesses, formando então o passado oficial. Um exemplo que ainda hoje causa muita polêmica com relação ao que é mentira e verdade é a história de Jesus Cristo. Existem muitas versões e desacordos, mas a história oficial ficou a critério da Igreja Católica, o que não impede a investigação dos pesquisadores a outras versões existentes. O guia turístico é outro exemplo, sua construção padronizada direciona e limita os visitantes em diversas localidades, pois eles ficam presos às versões oficiais sem se importarem com outras que não foram documentadas. As versões oficiais são documentadas e defendidas por instituições e museus, enquanto que as versões não oficiais geram longas discussões no presente.
O passado oficial se torna uma autoridade, visto que é uma construção daqueles que detêm o poder nas mãos. Com as inovações tecnológicas a padronização tende a diminuir abrindo oportunidades de percepção e interação entre os indivíduos e as diferentes realidades, fazendo o indivíduo conhecer a história com a visão e opinião ampliada e não mais limitada como acontece com o uso do guia turístico. As relações entre os indivíduos tornam-se o principal enquanto o patrimônio torna se o elo que irá influenciar a troca de informações.
O passado pode ser vivenciado com adaptações e inovações, mas não retroceder, pois isso remete a alterações sociais, políticas e econômicas. É a mesma coisa querer que os indígenas vivam isolados de novas realidades ou que o homem tenha o mesmo pensamento de 10 ou 30 anos atrás.
Portanto a partir do momento que existem novas e diferentes maneiras de vivenciar a realidade o passado deixa de ser uma autoridade e torna se base para inovações.

Conceito Chave: Mentira

Passado verdade ou mentira?
O passado oficial não constitui a verdade absoluta, mesmo porque os seres humanos são falíveis de erro e sempre terá uma parte da história inacessível. A parte inacessível seria o ponto inicial de uma mudança ou acontecimento que ficou marcado e influenciou na constituição da realidade que se vive hoje. Os erros que podem surgir são gerados das deduções ou das pesquisas realizadas.
Sendo o passado oficial defendido por aqueles que têm o poder nas mãos, alguns fatos são distorcidos ou escondidos para manter o controle da massa de acordo com seus interesses. Outros são criados através de deduções para evitar lacunas nas versões oficias.
As deduções e criações utilizadas para formar o passado são influenciadas pela a vivência de cada indivíduo, tendo também várias versões que não são consideradas oficiais, mas não podem ser consideradas mentiras, são pontos de vistas diferenciados de visões não limitadas. Verdade ou mentira os relatos que constituem o passado também passam de gerações para gerações e podem sofrer ou ter sofrido alterações não perceptíveis aos historiadores.
Não se deve esquecer o aprendizado obtido com o estudo do passado oficial, mas sim saber questionar o que vem a ser mentira, e se essa mentira está limitando a minha realidade. O questionamento também gera oportunidade de se vivenciar versões de um passado não oficializado, criando, portanto no indivíduo o senso de coletividade e renovando as interações humanas. Afinal a memória de uma sociedade não é constituída apenas de monumentos históricos.


links:

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1834815-EI302,00.html
http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI1830979-EI8266,00.html
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI1834370-EI8143,00.html
http://www.estadao.com.br/geral/not_ger36021,0.htm
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1833140-EI4802,00.html

sites

http://www.comciencia.br/reportagens/501anos/br15.htm
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=77
http://br.geocities.com/edterranova/raven074.htm
http://ceaa.ufp.pt/turismo3.htm
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20070814/not_imp34229,0.php
http://portal.vanzolini-ead.org.br/default.aspx?SITE_ID=167&SECAO_ID=1056

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